11 dezembro 2007

Papo de Buteko

O ator de Tropa de Elite é um exemplo de batalhador. Foi de balconista de padaria a astro do filme sensação nacional


Quando tinha 18 anos, André Ramiro era balconista em uma padaria no Rio de Janeiro. Um dia, um cliente lhe perguntou: "Você é o André, filho da Madalena?". Arisco, ele devolveu: "Sou, sim. Qual é o problema?". Totalmente sem graça, o homem do outro lado do balcão revelou ser seu pai. "Naquele momento, eu fiquei paralisado, não sabia direito como reagir", lembra.

Como foi sua infância?
Morava na Vila Kennedy, comunidade da zona oeste carioca. Minha mãe nos criou sem ajuda de homem nenhum. Foi empregada doméstica, fez faxina. Tenho muito orgulho dela, que me ensinou que era preciso trabalhar para ter o que quisesse. Comecei pequeno a carregar compras em supermercado, para começar a ganhar meu próprio dinheiro e comprar lanche na escola.

O que você fazia antes de Tropa de Elite?
Era porteiro havia quatro anos em um cinema do Rio. Antes, havia sido caixa de supermercado, balconista e até "segurador" de placa (risos). Um dia, um amigo que trabalhava na loja de sorvetes de um shopping, o MC Louco, me chamou para ir num encontro de rappers, no bairro da Lapa, no Rio. Quando vi aquilo, decidi que aquela era minha vida. Já escrevia poesia e vi que podia expressá-las na música.

Como entrou para o filme?
Através do rap, conheci o João Velho (filho dos atores Cissa Guimarães e Paulo César Peréio). Foi ele quem me falou dos testes para Tropa de Elite. Disse que precisavam de caras com meu perfil. Nunca havia tido a pretensão de ser ator. Mas acharam que eu tinha cara de rapaz responsável que se encaixava no aspirante Matias (risos).

Como a classe artística te recebeu?
Com um carinho muito grande. Sou amigo de todo o elenco. Quando me preparava para o filme, numa academia, a Camila Pitanga entrou e veio me cumprimentar: "Oi, você é novo aqui? Seja bem-vindo, viu!". O pai dela, o Antônio Pitanga, brinca que somos a cota da academia (risos).

O que aprendeu com seu personagem, Matias?
O processo de treinamento foi muito intenso. Levei muito tapa na cara, tive que comer comida no chão, já que fizemos o mesmo treinamento que os policiais do BOPE fazem. Quando um errava, todos os outros pagavam. Isso criou em nós um senso de honra e uma relação muito forte de companheirismo. O Caio Junqueira, que interpreta o Neto, hoje, é um dos meus melhores amigos.

Você é um policial do BOPE no filme. Qual sua opinião sobre a atuação da polícia nas favelas e a legalização das drogas?
O policial é um ser humano como outro qualquer. Mas é fato que, quando a polícia sobe o morro, ela não entra de forma cordial. Dessa forma, acaba fazendo o trabalho sujo para os governantes. A polícia não pode ser o único braço do Estado a entrar na favela. O jovem de comunidade quer ser respeitado igual ao jovem da zona sul. Não vou dizer se sou contra ou a favor da legalização. Só acho que reprimir apenas não vai adiantar nada. O tráfico é o reflexo de toda uma corrupção que está inserida na sociedade. Conheço gente que mexe com drogas na zona sul também.

Esta entrevista foi retirada do site da revista contigo. Apesar da publicação ter como principal objetivo dinfundir as chamadas "fofocas dos famosos", achei interessante a reproduzir esta conversa com o ator André Ramiro.

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